DIA INTERNACIONAL DOS MONUMENTOS E SÍTIOS 2020

Atendendo às contingências provocadas pelo vírus COVID-19, e pelas limitações que esta situação está provocar em todo o mundo.

Passamos celebrar o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, através da partilha de visitas virtuais, exposições virtuais, apresentações, filmes, etc.

A Quinta do Braamcamp

A QUINTA BRAAMCAMP – ALGUNS ELEMENTOS HISTÓRICOS

Na zona entre a Ponta do Mexilhoeiro e do Clube Naval, voltada a Almada e Lisboa, encontramos a Quinta do Braamcamp, uma quinta à beira-rio com uma rica e diversa história e património ligados a múltiplas actividades (moagem de maré e vento, agricultura, piscicultura, criação de bicho da seda para fabrico de fio de seda, transformação de cortiça). Esta quinta tem parte do seu território classificado como zonas húmida e alagadiça, integradas na Rede Ecológica Nacional e outra fora do espaço de classificação ecológica nacional. Nesta Quinta existe o maior moinho de maré do Barreiro, conhecido como Moinho do Braamcamp. Foi reedificado depois do terramoto de 1755, por Vasco Lourenço e vendido pelos seus herdeiros em 1804, a Geraldo Venceslau Braamcamp, 1º Barão do Sobral, que o amplia de 7 casais de mós para 10.

Nesta Quinta é referida, num documento de 1817, a construção de um moinho de vento na Vila do Barreiro. Em 1820, outro documento refere que este é “ um moinho de vento que não tem semelhante neste reino, e talvez que não haja noutras nações”, terá ardido completamente num incêndio dentro da Fábrica de Cortiça em meados do século XX.

Também será Geraldo Venceslau Braamcamp que promove na Quinta a plantação de amoreiras e um viveiro de amoreiras, bem com ao criação de bicho-da-seda, certamente para abastecer as fábricas têxteis protegidas com lei especial pelo Marquês de Pombal. O próprio Geraldes Venceslau Braamcamp, juntamente com Anselmo José da Cruz Sobral, recebem o privilégio da exploração da Fábrica Têxtil de Portalegre por Carta Régia de 29 de Março de 1788, durante 12 anos, o que justificará a actividade na Quinta.

 O seu filho permutará esta quinta com Abraham Wheelhouse, que a arrenda em 1883 a Robert Hunter Reynolds, que a compra em 1884, mas já em 1883 tinha aberto na propriedade um fabrico de cortiça, fruto da instalação da Linha do Sul e Sueste que abre caminho ao processo de industrialização do Barreiro, marcado por três momentos: abertura da Linha do Sul e Sueste e Oficinas do Caminho-de-ferro; instalação da Indústria Corticeira e implantação da CUF.

Em 1895 esta fábrica foi vendida à The Cork Company Lda, a qual vende, em 1897 à Sociedade Nacional de Cortiças. A Quinta era na época conhecida por Quinta dos Ingleses. Em 1986, num fogo na Fábrica, ardeu por completo os vestígios do Moinho de Vento do Barão do Sobral. Em 2008 foi considerada insolvente, tendo sido vendido em leilão o material e maquinaria a várias empresas e o terreno ao BCP. Sofrendo, pelo abandono, mais dois incêndios que destruíram o património edificado.

A zona de Alburrica (SIM) rodeada a Norte, pela área da antiga CUF, em procedimento de classificação de âmbito nacional, e a  Sul pela área do Complexo Industrial Ferroviário, igualmente em procedimento de classificação nacional, ambos abertos pela Direcção Geral do Património Cultural,  configuram um território único no País, do ponto de vista patrimonial, paisagístico e ambiental, com relevo histórico nacional, muito significativo os processos de industrialização em Portugal e na Europa.

 O Barreiro é um caso exemplar no País e na área Metropolitana de Lisboa do ponto de vista da história e património. No Barreiro é possível, em cerca de 36km quadrados, percorremos uma história de séculos ligada à indústria, com significado nacional e internacional. Um percurso de participação activa nos grandes momentos da História de Portugal e do desenvolvimento do País, com relevo para o período da Expansão Portuguesa e do Processo de Industrialização que interessa aos barreirenses recolher, estudar, conhecer, salvaguardar, divulgar, mas também a toda a AML, como forma de valorização desta no contexto europeu, de acordo com documentos estratégicos como o PNOPOT e o PROTAM, e, bem entendido, ao próprio País, na via de uma oferta turística diversificada e dirigida a segmentos precisos de procura turística.

E Alburrica/Braamcamp não são excepção, mas aquilo a que designaríamos uma “almada”, (do árabe, mina de ouro): do ponto de vista histórico e patrimonial, porque por aqui passou parte significativa da nossa identidade; do ponto de vista paisagístico pela luz, pela situação de confluência entre o rio Tejo e o seu afluente Coina que, aqui chega, vindo da Serra Mãe, de Sebastião da Gama, pelo extraordinário desenho da sua natureza de sapal, bordejado de restinga. Nada, nesta paisagem idílica, “romântica”, frágil, vulnerável ambientalmente é compatível com a construção de prédios, de um estádio de futebol de 11, com a sobrecarga de trânsito e enormes afluências de pessoas ao mesmo tempo.

A quinta do Braamcamp
A última fábrica de cortiça do barreiro
Testemunhos de antigos trabalhadores da fábrica de cortiça
Testemunhos de antigos trabalhadores da fábrica de cortiça

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